*paris*

[place des vosges]

queridos, conforme prometido venho deixar minhas impressões e reminiscências sobre as cidades tão especiais pelas quais passei nestas férias de final/começo de ano. foram dias frios e lindos, que guardarei com toda a delicadeza em minha avantajada memória canceriana, e que apenas parcialmente conseguirei exprimir em palavras, mas o registro servirá ao menos para organizar, de alguma maneira, meus sentimentos sobre lugares incríveis, que me tiraram um pedaço e por onde, certamente, minha alma flutuará para sempre [vide posts mais antigos, intitulados ‘minha alma flutua’].

dedicarei um capítulo para cada uma das cidades daquilo que chamei de primeira fase da viagem [paris, bruxelas, bruges e amsterdam] e um último capítulo para portugal, onde vivi o segundo momento, todo especial, destas minhas férias merecidas.

prontos para começarmos nosso ‘caminho para a distância’? pois...


*paris*

impossível falar, escrever ou pensar sobre paris sem cair nos velhos clichês de que ‘paris vale uma missa’, ‘paris é uma festa’, ‘paris é tudo’. paris, de fato, é tudo, e um pouco mais. e se eu já estava certa antes, agora posso dizer, com conhecimento de causa, que ‘só há uma coisa melhor do que ir a paris: voltar a paris!’. paris é mágica, romântica, harmônica e extremamente estética. tudo é lindo em paris: as ruas, os prédios, as praças, os jardins, as pontes, as pessoas. as pessoas, aliás, valem um comentário a parte neste post, pois não lembro de ter visto tanta gente bonita por metro quadrado em qualquer lugar da minha vida, mesmo em paris, antes. homens e mulheres. gente das mais diversas origens e etnias. parisienses e não parisienses. imigrantes. turistas. homens de olhares magnéticos e mulheres lindamente maquiadas e bem-vestidas. penso que as pessoas acabam harmonizando-se com a beleza e com o espírito da cidade. deve ser isso.

começar uma viagem por paris é algo intenso, mas que de certa forma tira um bocado do entusiasmo pelos destinos posteriores. nada que nos impeça de ver a beleza e sentir a energia das outras cidades, mas é difícil sentir-se arrebatado por um lugar depois de paris.

as primeiras emoções da viagem aconteceram ainda no avião, com as diametralmente opostas visões aéreas de lisboa e paris. saímos de fortaleza no incrível vôo da tap que atravessa o atlântico em inacreditáveis 6 horas e 20 minutos. chegamos em lisboa numa manhã de céu absolutamente azul, de maneira que pude avistar, da minha janela, a torre de belém; o mosteiro dos jerónimos, com seu jardim de frente; e os estádios do benfica e do sport. foi lindo rever portugal de uma maneira tão peculiar e inesperada. desembarcamos, então, para os procedimentos de conexão e, com um pouco de atraso, decolamos com destino ao aeroporto de orly. alguma turbulência gerada pelo encontro dos ventos portugueses com os ventos espanhóis e logo estávamos sobrevoando os pirineus – uma cadeia de montanhas congeladas que geograficamente ajudam a traçar a fronteira entre o norte da espanha e o sul da frança. lindo de ver de cima. uma seqüência quase infinita de relevos brancos, que me lembraram o dia em que, num vôo entre fortaleza e são luís, fui surpreendida ao avistar os lençóis maranhenses. mas emoção maior eu sentiria ao chegar numa paris branca e que parecia soterrada pela neve. a sensação era a de que estávamos chegando ao pólo norte, e que não havia restado ninguém em paris. não se via movimento algum, apenas uma imensidão branca, estática e linda, quase triste – uma cena que, mesmo que eu viva 100 anos, jamais esquecerei. após o traslado, check in e demais procedimentos de chegada, e já instalados num hotel do 14ème, pegamos o metrô com destino ao trocadéro, mas decidimos descer um pouco antes, na estação bir-hakeim (tour eiffel) – o que foi providencial, porque a vista da torre iluminada a partir do trocadéro, já na chegada, certamente teria sido demais para o meu coração dom-quixotesco. contando com o fuso horário de 4 horas a mais e com o rigor do inverno europeu, já era noite o suficiente para que os apartamentos que ficam no mesmo nível do metrô – que passa a ser de superfície a partir da estação cambronne – tivessem acendido suas luzes internas. foi uma delícia observar, através do que as janelas e as cortinas entreabertas me permitiam ver, as decorações caracteristicamente parisienses que, somadas à trilha sonora proporcionada pelos gitanos do metrô, não me deixaram a menor sombra de dúvida: definitivamente, eu estava em paris! depois, então, de um jantar delicioso, regado a dois copos de vinho tinto, e de uma caminhada entre o sena e a torre eiffel, que piscava e mudava de cor em intervalos regulares, a vida ficou linda e eu me senti a mais feliz das criaturas.

o dia seguinte – o primeiro completo na cidade – começou com muita neve. nevava um bocado ainda quando saímos do hotel com destino certo: a catedral de notre-dame, por onde se deve começar qualquer viagem que se preze a paris. sem baldeação, a mesma linha de metrô nos levou até a estação cité, bem no meio da ilhota que divide o sena e que conjuga as îles de la cité e saint louis – o metro quadrado mais caro, e mais charmoso, de paris, e marco inicial da cidade. a catedral imponente, os arredores nevados, as árvores completamente desfolhadas e o dia cinza me foram afinando o espírito e ao entrar na notre-dame, no meio de uma missa – celebrada, naturalmente, em francês – sentei e rezei, agradecendo, mais que tudo, por todas as bençãos de 2009, e pedindo saúde e proteção para mim e para o meus [nos quais se incluem muitos dos poucos que ainda se dão o trabalho de me ler nesta biroska], pedido que refiz em cada uma das muitas igrejas [cada uma mais linda que a outra] em que entrei nesta viagem. a missa já chegava perto do fim quando reabri os olhos, bem no momento que mais gosto da celebração: a paz de cristo. comecei a saudar os meus vizinhos, e os que estavam na minha frente, e às minhas costas: um casal de orientais; um africano; um casal tipicamente americano; alguns latinos; alguns germânicos... gente que me olhou profundamente nos olhos e que me desejou, sorrindo, ‘a paz de cristo’ em pelo menos uma dezena de línguas diferentes, e que recebeu de volta o meu sorriso, e a minha ‘paz de cristo’, no meu bom português. lágrimas escorreram sem esforço dos meus olhos naquele que foi um dos momentos mais emocionantes que me lembro já ter vivido.

nos dias que se seguiram, a cidade foi se mostrando aos poucos para mim, delicadamente. o frio era imenso, apesar de haver cessado a neve, mas nada consegue ser desagradável em paris. caminhei pela cidade sem pressa e sem destino, me deixando surpreender por onde o instinto me quis levar. de repente o sena. de repente o boulevard saint michel. de repente a pont saint louis, o quai de bourbon e a casa da camille claudel, citada por caio fernando abreu num escrito já postado no finado monólogos de eurídice [e onde eu não poderia mesmo ter deixado de ir, né clarita del valle?]. de repente a pont neuf. de repente o louvre, o jardin des tuileries, a place de la concorde com sua grande roue e a paris dos milionários [onde, após ser chamada de madame por um guarda de trânsito bonitão, vi uma mulher sair do hotel de crillon vestida num casaco de pele [que espero ecologicamente correto!], com uma bolsa hermès pendurada no braço e cara de ‘mais rica impossível’]. de repente a pont alexandre III, o grand palais, e a visão clássica da champs elysées decorada para o natal. de repente montmartre, com sua impressionante sacré couer [onde fiz uma oração especial por você, fá, e pelas meninas], e sua tão típica place du tertre. de repente la bastille e a place des vosges – a mais bonita de paris e onde passei, com mô no coração, o final de tarde mais lindo da viagem, ao som de um stravinski que parecia vindo do além. de repente a magnífica fachada da opéra iluminada e a chiquérrima place vendôme com o ritz e sua porta giratória, por onde mil vezes vimos passar a princesa diana e seu dodi al-fayed na noite de suas mortes [um pensamento mórbido e triste que não pude evitar]. de repente a tour eiffel, com os jardins du trocadéro e o champ de mars, um de cada lado da pont d´léna. de repente os jardins du luxembourg, la sorbonne, o boulevard saint germain, o café de flore e o les deux magots – um do ladinho do outro, exatamente como eu os vi em 95 e como estavam quando sartre e simone de beauvoir, apaixonados e entre cafés, jornais e cigarros, discutiram o existencialismo. eu já disse, aliás, que a perenidade das coisas é o que mais me encanta e enternece no velho continente. um coração canceriano e cultuador do passado como o meu não pode jamais passar incólume por um lugar onde, como diz meu hilário amigo jorgê, há um orelhão no qual napoleão ligou para nabucodonosor ou uma fonte na qual carlos magno se refrescou antes de invadir a galícia. paris é assim: eterna. e eu espero voltar, muitas vezes ainda, para poder enxergar, com olhos cada vez mais adultos, e o coração cada vez mais apurado pela vida, suas sutilezas e nuances.

peguemos, então, um thalys para a próxima estação: bruxelas.

10 comentários:

Loop no Mundo disse...

Me lembrarei desses detalhes quando eu estiver lá! =)

Cele disse...

faço minhas as palavras da nayane... suas contações são sempre poéticas e me enternecem o coração. bj! muito bom tê-la de volta.

Anônimo disse...

Querida

Estou degustando aos poucos suas impressões... estou adorando e vc verbaliza tudo q a gente sente nessa cidade linda. Imagine na primavera! Só faltou citar a trilha sonora do Vivaldi, os violinos imitando o bater dos queixos com o frio...rs
Bom regresso e boa vida
Bjo

Anônimo disse...

AH! Gratíssima pela oração por mim e pelas meninas. Só li depois ! (Estava degustando, lembra?...rs)
Bjk, querida

Ana Claudia disse...

muito linda sua descricao, que pena que nao vai ter um capitulo para Roma... :0)

Clara del Valle disse...

Eu tenho certeza que se lembrou de mim ao reler e fotografar a tristíssima constatação de lady Claudel!!!!

bjs meus, ansiosos por detalhes salamantinos.

Anônimo disse...

Ah, voltei mais uma vez a Paris nessa sua descrição, já estou tempo demais sem ir lá...

Paris no inverno é realmente muito mais chique: os casacos, os xales, as botas altíssimas, os cachecóis... Pra mim, é a estação perfeita para essa cidade!

beijos
Mônica

Carol Freitas, disse...

que delícia de relato, tró. Paris é mesmo tudo isso aí que você conseguiu descrever e o pouco que te escapou...
e tu é dona de um coração tão bom que consegue perceber a delicadeza de todos os detalhes. te amo :*

Mônica disse...

e a place des vosges – a mais bonita de paris e onde passei, com mô no coração, o final de tarde mais lindo da viagem, ao som de um stravinski que parecia vindo do além.


aiiiiiiiiiiiiii que não canso de ler e reler esse trecho! amutu!

Anônimo disse...

Fantastic blog. keep it up!

Here is my blog: canapé design

.por onde andei.

.por onde andei.
.sob o céu furta-cor de jeri.

.pela orla da minha querida cascais.

.por entre as milhares de bicicletas de amsterdam.

.pelas ruas medievais da irretocável bruges.

.sob as luzes e sombras da grand place, em bruxelas.

.pela simétrica [e linda!] place des vosges, em paris.

.pela incrível plaza de españa, em sevilla.

.pelo fabuloso parc güell, em barcelona.

.pela recoleta, em buenos aires.

.pelas muralhas de óbidos.

.pela nascimento silva, em ipanema.

.pela cidade alta, em salvador.

.pelo pico alto, em guaramiranga.

.pelas charmosas ruas de sintra.

.pela torre de belém, em lisboa.

.pelas margens do douro, no porto.

.pelo casco viejo, em santiago de compostela.

.pelo meu retiro, em madrid.

.caminham comigo.

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.plágio é crime e atestado de burrice.

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.presentinhos.

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