nigella lawson tupiniquim

made in candice´s kitchen.

herbsttag

[a sensibilidade da foto é de minha querida amiga juliana oliveira]


who now has no house, will not build one [anymore]
who now is alone, will remain for so long
will wake, and read, and write long letters
and back and forth on the boulevards
will restlessly wander, while the leaves blow.
[rainer maria rilke]
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é outono no hemisfério norte, e em mim.

clarice,


Candice,
Como fiquei feliz em te encontrar hj. Feliz em reencontrar a alma tão sensível que é vc e com a qual me identifico...
Isso é tudo o que tem de melhor. Tudo o que tem de especial. Veja o que diz Clarice: 'cuide-se como se vc fosse de ouro, ponha-se você mesmo de vez em quando numa redoma e poupe-se'.
Deixo-te a biografia desta mulher incrível. Se puder, tire um tempo sozinha, sem distrações, para lê-lo. Ele merece, ela merece. Já o li, alguns trechos várias vezes, e sempre reidrato meus olhos, tornando-os límpidos, apesar de toda a poeira do cotidiano [outra de Clarice: 'todos os dias, quando acordo, vou correndo tirar a poeira da palavra amor...'].
Não sei exatamente do teu contato com ela, mas queria te dar umas boas-vindas, uma insignificante carta de apresentação, por isso te escrevo.
Bjs, V.
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recebi o livro hoje, das mãos de meu amigo v., que o deixou, com o bilhete transcrito acima, com minha secretária no trabalho. almoçamos juntos na última segunda, véspera de feriado, na deliciosa casa [nas dunas] de uma amiga em comum. fazia tempo que não nos encontrávamos. ele me buscou no trabalho e cruzamos a santos dumont na ida e na volta conversando sobre a vida, sobre o tempo, sobre o que parece e nem sempre é. conversas profundas, que só acontecem entre os sensíveis. a sensibilidade é das virtudes a que mais admiro nas pessoas. meus melhores amigos, aqueles com quem mais verdadeiramente gosto de estar, são os sensíveis. minhas almas afins. clarice também é minha alma afim. tão afim que é dela o livro que define minha personalidade, segundo um daqueles testes [um tanto questionáveis - é bem verdade!] que rolam por aqui pela internet. tão afim que tem quase o meu nome, não fossem duas letras e um pequeno ajuste. começo a ler hoje, como não poderia deixar de ser. venho repartir uns trechos com vocês, certamente.

quintana feelings

'entre a minha casa e a tua casa, há uma ponte de estrelas. uma ponte de silêncios.'

falso paradoxo

o bonito da vida é que ela pode ser qualquer coisa. pode ser a rotina das 9h às 21h, pode ser um banho de mar inesperado às 17h. pode ser a vida que você leva, pode ser o doutorado em madrid. pode ser o óbvio, pode ser o improvável. pode ser ficar, pode ser partir. pode ser sumir subitamente, pode ser aparecer de repente. pode ser silêncio, pode ser declaração. pode ser a opção consciente da individualidade, pode ser o altruísmo perpétuo da maternidade. pode ser a segurança da nossa cama, pode ser a incerteza do mundo. pode ser josé, pode ser joão. a vida pode ser destino, mas será sempre escolha.

3 queijo [sic] e 3 siri!!!*

3 blogs, 3 vidas, 3 mulheres, num dia de numerologia simples 3, 3 anos depois. 3 horas de avião de fortaleza até o rio, 3 horas de estrada de volta redonda até o rio. uma vinda de uma convenção nacional do grupo de ensino superior para o qual trabalha, outra diretamente de uma fábrica de cimento arqui-inimiga da votorantim, e a terceira de seu novo apartamento de 5 banheiros no recreio dos bandeirantes... as 3 com o mesmo e único propósito: brindar ao delicado da vida!
da primeira vez que nos encontramos [fisicamente falando], no número 43 da farme de amoedo, era final de junho de 2007 e do longo silêncio que me impus em luto pelo gérbera laranja. daquela calçada de ipanema nasceu o hoje também já finado monólogos de eurídice [que vocês ainda podem acessar clicando em blog antigo, na segunda caixinha da esquerda para a direita aí em cima!]. depois da última noite de sexta, eu não poderia deixar de vir aqui nesta biroska, abandonada há 3 meses, para registrar uma constatação: a vida é simples, bonita e mágica o suficiente para nos preparar, em silêncio e enquanto nos ocupamos de coisas mundanas, pequenas ilhas de cactus gigantes em meio a desertos de sal - uma metáfora que guadarei com carinho mesmo não sendo minha a alma que ainda flutua sobre o salar do uyuni e o deserto do atacama [desertos são tão poéticos!].
brindamos ao delicado da vida com smirnoff ice e coquetéis diabéticos e passamos a descortinar e dar nome aos 3 anos de entrelinhas nem sempre decifráveis que escrevemos neste ínterim. também criamos nossas próprias versões sobre as entrelinhas daquelas que gostaríamos que estivessem presentes: annna d., com 3 enes, e jana [repetindo o que certamente fizeram as duas no recente reencontro que também tiveram, em curitiba].
de lá para cá, perdi um filho, cruzei duas vezes ida e volta o atlântico e me tornei bem-dizer uma executiva. clarita del valle, por sua vez, perdeu-se e encontrou-se entre amores fracassados, viajou sozinha para o fim do mundo e voltou com uma cuia de chimarrão conceito que encontrará seu destino mais tardar até o estético dia 10 do 10 do 10. e mô [que continua finamente desbocada!] vive, finalmente, a sorte de um amor tranqüilo esperado por uma vida num amplo apartamento, com direito a terraço e alarme, do recreio dos bandeirantes. terminamos a noite confundindo um taxista que, contrariando a genética, acreditou que éramos irmãs de pais diferentes e desfiou um rosário de desgraças familiares entre a sernambetiba 2900 e o transamérica da barra.
faz muito tempo eu li que 'tudo que acontece uma vez pode nunca mais acontecer, mas tudo que acontece duas vezes certamente acontecerá uma terceira'. de lá para cá, tive oportunidade de comprovar essa máxima algumas vezes. ojalá não seja diferente com a gente.
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*vocês não achavam mesmo que eu iria explicar aqui a frase do guardanapo, achavam?!

140 caracteres

gave myself up to twitter!
[vamos ver no que vai dar!]

alea jacta est

mais uma coruja para a minha coleção.
[sim, eu tenho um plano!]

rumo à estação nunca mais

ando assim. às vezes reto. às vezes torto. às vezes pra frente [como quer minha lua em aquário]. às vezes pra trás [como mandam meu sol e minha meia ascendência em câncer]. algumas vezes tão para a distância que vejo canas, cajaranas, jambos e graviolas no caminho. às vezes ando sorrindo. às vezes cantando. outras vezes ando chorando. ou com vontade de. ando pra lá e pra cá. como nunca antes. ando pra longe e volto [por lugares onde antes nunca andei e pra onde nunca deveria ter saído]. a passos às vezes largos. às vezes curtos. porque a vida é cíclica. às vezes chego cedo. às vezes tarde. às vezes tarde demais. algumas vezes ando com fé. mas a fé contradiz meu querido gil e costuma faiá [sic] ô lá lá. aí eu volto para a estação ‘para sempre’. e começo a andar de novo. porque pr´eu desistir ‘tem é zé’. porque quando eu desisto é pra nunca mais. e ‘nunca mais’ é minha última estação. e tenho dito!

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escrevi isso há alguns anos, num blog que tive, intitulado gérbera laranja. quando o deletei, desconectando para sempre as palavras ali juntadas a tanto custo emocional, achei tão revelador este post que o guardei. e hoje, pensando na vontade quase diária que tenho tido de desistir de um certo aspecto da minha vida, lembrei como é longe a minha estação ‘nunca mais’. mas saber, simplesmente, que ela existe, e que é o fim irrevogável da linha para mim, me conforta. iê-ê, vou dormir que o meu mal é sono.

eu recomendo

simples assim

porque hoje eu tomei um banho de mar maravilhoso e lembrei daquela cena do filme do cazuza. depois lavei o rosto com água de côco e fui embora me sentindo feliz da vida.

*portugal*

eu preciso dizer que chegar em lisboa foi um alívio. porque aterrissar, depois de o piloto ter claramente errado a aproximação do aeroporto [tenho que admitir que, por essa e por outras, eu tenho ficado com medo de avião!], não pode ter outro nome. nossos anfitriões, chatô e sarah, nos esperavam no desembarque com sorrisos, abraços e um português delicioso de se ouvir depois de tanto francês e inglês. os termômetros marcavam inacreditáveis 17º - o que, para quem havia passado os últimos 15 dias oscilando entre 4º negativos e positivos, pareceu um calor senegalês [pena que nos 15 dias posteriores a temperatura máxima no país foi 10º]. naquela noite deliciosa, jantamos um bacalhau idem, preparado especialmente para a ocasião pelo chatô, que se revelou um verdadeiro chef de cousine. chatô e sarah são o típico 'casal jovem morando no exterior': têm uma vida social bastante restrita, assistem globo internacional para se sentir mais perto de casa e adoram receber os amigos do brasil. não que estejam infelizes. ambos estão legalmente em lisboa, trabalham no que gostam, fazem mestrado numa conceituada universidade portuguesa, e têm amigos [brasileiros] com quem podem contar para tudo. no mais, moram bem, comem bem [depois destas minhas duas idas recentes à europa estou absolutamente convicta de que comemos refugo no brasil!], ganham bem [e em euro!], têm um poder de compra infinitamente maior [e mais justo!] do que o nosso [do leite nosso de cada dia aos móveis da incrível ikea, os super-eletrônicos do media market e os terninhos da zara - eu trouxe 6!], e já conheceram metade da europa. os dois foram de uma delicadeza e de uma generosidade imensas e difíceis de se ver. e se revelaram os melhores anfitriões ever. o apartamento foi o mesmo em que nos hospedamos no ano passado, só que sem eles. esse ano, com eles em casa, foi bem especial. o fato de termos ido recentemente à lisboa [foi minha terceira vez na cidade], e de termos a companhia deles, que a conhecem tão bem, fez com que a víssemos de outra forma, bem menos turística, bem mais cotidiana. uma delícia. então trocamos o castelo de são jorge, por exemplo, por um jantarzinho numa pizzaria bem peculiar nas docas de santa apolónia, chamada casanova. trata-se de um dos charmosos restaurantes instalados às margens do tejo, com varanda externa onde o vento gelado não nos permite ficar nem por decreto nesta época do ano, mas que estou certa de que é dos lugares mais charmosos e sexies onde se pode jantar no mundo nas outras três estações. a parte interna é apertadinha e pitoresca. são apenas 7 mesas, sendo 4 de 10 lugares, e 3 de 4 lugares, de maneira que se você vai em casal é possível que se sente ao lado, numa mesa de 4 cadeiras, de um indivíduo que cismou em ir comer uma pizza sozinho naquela noite [como aconteceu na mesa da nossa frente e nos deixou constrangidos, pelo casal e pelo solitário convicto!] ou entre duas turmas de 4 pessoas - uma loucura! como estávamos em 4, e tivemos a sorte de pegar uma das mesas de 4 lugares, ficamos confortavelmente a salvo de estranhos. na última noite do ano, antes do nosso revéillon-balada na sede de um antigo jornal comunista, chamado 'a voz do operário' [vocês conseguem pensar em algo mais comunista do que isso?], no antigo bairro alto, fomos jantar num japonês que também muito dificilmente encontraríamos em circunstâncias eminentemente turísticas. a passagem do ano foi pitoresca, com direito a show de cabaré burlesco e uma mistura bizarra de música tecno portuguesa e americana, comandadas pelos famosos dj´s gimba e johnny [os fundadores comunistas do local devem ter se revirado master em seus túmulos!]. fomos em grupo, de 7 pessoas - todos brasileiros. todo mundo de preto, no maior estilo 'em roma como os romanos'. uma comédia! uma passagem de ano no mínimo peculiar, e antes da da maioria de vocês, que me lêem das américas. dia 2 amanheci mal, e dia 3 estava tão lascada de gripe que tive de abortar a tão programada ida a salamanca, com camis e jorge*, e acionar o seguro viagem para ser devidamente examinada por uma médica plantonista do hospital cuf descobertas, nas imediações da gare do oriente. estava tão congestionada que até conjuntivite tive. saí de lá com uma receita para 6 remédios - um antibiótico, um anti-inflamatório, um anti-alérgico, um corticóide para o nariz, um colírio e uma pomada para os olhos - que custaram, juntos, a bagatela de 35 euros [o que não daria para comprar nem o antibiótico aqui no brasil]. e como eu nunca tomo remédio, 24 horas depois estava boazinha, com o olho um pouquinho baixo ainda, mas lépida e fagueira. a nevasca que caiu sobre salamanca naqueles dias impediu definitivamente a ida à minha espanha, com direito a um dia em ávila de santa teresa [ô frustração, clarita!]. meu estado de saúde não me permitia dias mais frios do que os que estavam fazendo em portugal, nem longas caminhadas a céu aberto, de maneira que decidimos ficar. em compensação, sobrou mais tempo para curtir lisboa na companhia de nossos queridos anfitriões, para aproveitarmos os saldos e irmos às compras [comprei muito mais do que o que estava programado, com direito até a uma cafeteira nespresso cityz branca e 250 cápsulas dos 16 sabores de café diferentes - e agora ando igual a dona florinda, perguntado a todo mundo: 'não quer entrar para tomar uma xícara de café?'], e para visitarmos as cercanias, como fátima, estoril e minha amada cascais, onde ainda hei de morar um dia. foi nessa ida ao estoril que soube que, em 1939, quando eu ainda nem sonhava em vir a este mundo, meu vinícius e sua primeira mulher, tati, então residentes em paris, decidem voltar ao brasil em razão da eclosão da segunda guerra mundial, e passam, junto a oswald de andrade e sua mulher, bárbara, 28 dias hospedados no antigo hotel paris, enquanto esperam pelo navio angola, que os traria de volta ao rio de janeiro. e foi durante essa estada de quase um mês em portugal que vinícius escreveu o 'soneto da fidelidade', cuja a célebre frase 'que seja infinito' está gravada num pingente de ouro branco que adorna o meu pescoço e que eu já mostrei para vocês em outra ocasião aqui nesta biroska. estou certa de que o pedaço de alma que ele deixou por lá, por lá ainda flutua, e deve ser um dos motivos inconscientes pelos quais eu tanto gosto de cascais. e para finalizar este post, antes que ele fique tão longo que ninguém tenha paciência para terminar de ler, preciso dizer que chegar à lisboa, vinda de paris, bruxelas e amsterdam, é um tanto chocante. nota-se, solidamente, o imenso hiato de desenvolvimento que ainda há entre portugal e o restante da europa. no entanto, é de um enternecimento imensurável também, pelo idioma, pelo frio mais ameno, pela comida deliciosa [em nenhum lugar do mundo se come tão bem como em portugal!], pela proximidade do atlântico e pela familiaridade do povo - é confortador olhar para as pessoas no metrô e não ter um pouco de medo delas. em portugal, todo mundo é familiar, e a gente tem uma espécie de certeza de que todo mundo tem um lar para onde voltar.
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*camis é minha amiga e ex-colega de coordenação, que está fazendo doutorado na universidade de salamanca. jorge é o marido dela. preciso contar uma história muito bizarra que aconteceu conosco nesta viagem: dia 24 de dezembro, estávamos em paris quando o celular europeu que usávamos lá toca. era o chatô, nosso futuro anfitrião, ligando de portugal para desejar feliz natal. estava ele numa festa de natal, na casa de uns amigos brasileiros, e diz que tem uma pessoa lá que diz que me conhece e quer falar comigo. fico nervosa, sem saber quem poderia ser, até que escuto, do outro lado da linha, um 'candisssss?!' inconfundível. pois nossos dois casais de anfitriões, um morando em lisboa e outro em salamanca, se encontraram numa festa de natal na casa de amigos em comum, na parede, que é uma cidadezinha que fica entre lisboa e o estoril. vocês acreditam num negócio improvável desses?! quando eu digo que o mundo é pequeno e que eu tenho me revelado a rainha das improbabilidades acontecidas...

*amsterdam*

quanto mais o trem sobe no mapa [ou desce para os chamados 'países baixos', depende do referencial], mais linda vai ficando a paisagem. saca aquela casinha do exame de vista? aquela casinha vermelha láaaaaa no fundo de um pasto verde [deve ser para ver se a gente é daltônico!]? pois. na vida real ela fica em algum ponto do caminho entre bruxelas e amsterdam. eu vi. fora desta época, dizem que o tapete de neve dá lugar a um tapete de tulipas coloridas, e o que já é lindo fica encantador. cheguei em amsterdam quando já era noite. chovia e, depois da experiência em bruxelas, só deixei a estação devidamente munida de um mapa da cidade [esse aí que seguro na foto!], que solicitei e imprimi numa máquina, a custo zero, ali mesmo. do lado de fora, uma casinha exclusivamente destinada a fornecer informações previne que a cidade recebe mais turistas do que gente. fui até lá, perguntar para que lado ficava o número 12 da prins hendrikkade, onde estava o nosso hotel. fui prontamente atendida por uma holandesinha igual a boneca heidi que ganhei da minha mãe quando tinha uns 9 anos. o mesmo tom de cabelo loiro e a mesma roupinha quadriculada em azul claro e branco. muito solícita e simpática, ela me deu a excelente notícia: 'it´s not far from here'. atravessamos a ponte sobre o canal na frente da estação e viramos à direita, no meio de tanta gente que mais parecia a ladeira porto geral, só que com malas. andamos uns dois quarteirões, reconhecendo, como num déjà vu, a placa em neon azul que já havíamos visto no assustador google maps 3d. foi só o tempo de fazer o check in, subir para inspecionar o quarto [e o banheiro, naturalmente!], deixar as malas e descer para ir ver a cidade. caminhamos rumo a damrak, ponto de referência absoluto em amsterdam. seguimos o fluxo, debaixo de uma fina garoa, num frio de rachar, até a dam place - que, francamente, depois da grand place não pode impressionar ninguém. viramos à esquerda, aleatoriamente, e nos embrenhamos por entre casinhas, canais, pontes e muitas bicicletas. de repente, as luzes foram ficando vermelhas e a freqüência um tanto duvidosa. estávamos no coração do famoso red light district, onde mulheres de calcinha e sutiã se oferecem nas vitrines como carne no açougue e estranhamente falam ao celular. vi uma cicciolina com peitos do tamanho de bolas de basquete, uma gorda bizarra, uma velha se maquiando e uma só moça [moça?] bonita, que pelo biotipo devia ser latina, ou do leste europeu, vai saber. todas, rigorosamente todas, falando pelo celular. achei aquilo deprimente, malgrado todo o discurso anti-hipócrita que possa ser usado em defesa. quem me conhece, e já teve comigo uma discussão a respeito numa mesa de bar, sabe o que eu penso sobre sexo comprado. tentei manter o foco nos milhares de cisnes brancos que, concentrados bem ali naquele ponto do canal, contrastavam com a escuridão, em sentido denotativo e conotativo, do bairro. no dia seguinte, aberto pela chuva da noite anterior, mas nem por isso menos frio, caminhei pela cidade, deliciosamente plana, admirando suas lindas casas e seus típicos e múltiplos canais, até chegar à rembrandt huis, minha única exigência na cidade, que tem ainda os imperdíveis van gogh museum, rijksmuseum, e a anne frank huis, que ficaram para uma próxima vez. os dois primeiros, porque não havia tempo suficiente para desfrutá-los de maneira decente, e a casa da anne frank porque tinha uma fila de no mínimo duas horas, sem exagero, impossível de ser encarada debaixo de um frio de -2º, com sensação térmica de uns -10º. rembrandt é meu pintor holandês favorito. rembrandt é, aliás, um de meus pintores favoritos de todas as nacionalidades, perdendo, talvez, apenas para alguns espanhóis, que são o meu fraco. gosto de seu jogo de luzes e sombras, sou absolutamente fascinada por sua técnica e estar naquela que foi a sua casa, naquele que foi o seu ateliê, e me ver refletida no espelho que refletiu sua imagem foi de uma emoção indescritível. a europa tem dessas coisas, já diria meu amigo jorgê. depois de sair de lá, com a sensação de que amsterdam já tinha valido, muito, a pena, mesmo se acabasse ali, passei na kipling da heiligeweg, onde comprei, por 124 euros, a mesma bolsa de couro camel que havia visto, por 248, na loja matriz em bruxelas, 24 horas antes [a moça da loja de bruxelas me deu a dica de que em amsterdam já haviam começado os saldos da estação - e que saldos!]. depois, fui encontrar com a dê e o jan-hein no heineken hoek café da leidseplein. dê foi minha professora de ballet a vida inteira, dos 7 aos 24. ela casou com o jan há uns 6 anos, e foi morar em rotterdam. fazia pelo menos 3 que não nos víamos, desde a última vez que ela esteve em fortaleza e que reunimos todo o corpo de baile aposentado num café da historiador raimundo girão. quando eu soube que iria passar pela holanda, mandei logo um email para ela, que se programou toda e foi passar o dia comigo. foi lindo revê-la e, como ela é um pouco minha mãe, senti-me acolhida, protegida, mimada. pegamos um barco e demos a volta completa pelos canais, enquanto ela e o jan nos mostravam tudo e nos davam uma verdadeira aula sobre a holanda. depois, fomos ver as vitrines da rua mais cara de amsterdam - a pieter cornelisz hooftstraat - e jantamos num restaurante grego com nome de cueca. terminamos o dia nos despedindo em frente ao hotel, com lágrimas nos olhos, as duas. eu, pela gratidão imensa que sinto por ela. por tudo, e especialmente pelo carinho recebido neste dia lindo que passamos juntas em amsterdam. ela, dizendo-me do orgulho que era me ver assim, adulta, tendo acertado o rumo na vida. dê é a brasileira mais européia que conheço. ela não tem globo internacional e se ufana por viver num país em que há justiça social, o salário mínimo é digno e os idosos são respeitados. o único que realmente lamenta é não viver em viena - imaginem vocês! ela parece dura na queda, mas é das melhores criaturas que conheço. quando nos abraçamos na frente do hotel, me entregou um envelope com 300 euros [que ela pediu aos amigos holandeses de presente de aniversário, dias antes], pedindo-me que eu fizesse chegar à casa do menino jesus - dinheiro que já foi devidamente convertido em cerâmica e outros materiais de construção, que era o que mais eles estavam precisando no momento. no dia seguinte, o último na cidade, caminhei calmamente, deliciando-me com cada detalhe, de cada casinha, parando vez por outra para me esquentar num café ou me refazer do susto de quase ter sido atropelada por uma bicicleta, até a hora de pegar um táxi e rumar para o aeroporto de schiphol, de onde voei para a segunda parte das minhas férias, em portugal.
próxima parada: lisboa.

no avião com danuza

comprei na la selva do galeão/tom jobim, antes de embarcar de volta para casa, na quinta à noite. vim lendo e dando risada sozinha, no avião, antes de adormecer [fazia séculos que eu não dormia num vôo] e acordar com meu ouvido acusando que já havíamos iniciado a descida para o pinto martins. neste volume - que leio devagar para não acabar - danuza descreve lugares e aventuras em mais quatro cidades imperdíveis: são paulo, buenos aires, berlim e londres. uma delícia. estou terminando buenos aires, com a terrível sensação de que subaproveitei a viagem e que preciso voltar. sobre são paulo, gostoso ler suas impressões sobre lugares que conheço tão bem: o bar do unique, com seus playboys paulistanos [segundo ela, 'não há nada nesse mundo que se compare a um playboy rico e paulistano'] e sua deslumbrante vista; a galeria dos pães; a bella paulista; o quartier chic, nos jardins; o museu do futebol; o mercado municipal e suas 'lichias da malásia'; o trianon; a feirinha do masp; a livraria cultura... ai, são paulo, saudades de você!

rio 50º

assim como as divas beyonce, madonna e nicole scherzinger [paris hilton não é diva, né?], eu também estive no rio esta semana [*hohoho*]. em circunstâncias bem menos glamourosas, é verdade, mas no mesmo rio. fui a trabalho, para uma espécie de convenção anual dos diretores de unidade de todo o brasil com o presidente e a diretoria executiva do grupo de ensino superior privado no qual trabalho. cheguei na segunda e fiquei até a quinta à noite, véspera do carnaval. brincadeira encarar o galeão na véspera de um carnaval! como eu previ, nada de zona sul, nada de um segundinho de folga para ligar para mô e programar uma calçada de ipanema. nada de cristo redentor, nada de pão-de-açúcar, nada de lagoa, nada de leblon. hospedei-me no transamérica da barra e fiquei por ali mesmo, triangulando entre o campus tom jobim e o office, com um jantarzinho no outback, um no balada mix, e outro no la mole do barra shopping. o esquema era de imersão total, com pausa de uma hora para o almoço, preparado e servido in loco pelos alunos da gastronomia. na noite de abertura, uma palestra surpresa com ninguém menos que o maestro joão carlos martins, em pessoa. e seu piano, naturalmente. para uma platéia atenta e silenciosa, o maestro contou sua incrível história de vida - que eu já conhecia, mas nem por isso deixou de me impressionar. uma prova de que há mesmo muito mais coisas debaixo deste céu que nossa vã filosofia é capaz de supor ou imaginar. no final, tocou luíza, a ave maria de gounod e acabou de me matar com eu sei que vou te amar, acompanhado de um jovem aluno, de sua bachiana, ao violino. as lágrimas que escorriam discretamente dos meus olhos deram lugar a um choro de verdade e eu quis morrer de vergonha, pero bueno. durante o coquetel, entre um suco de tangerina e outro de frutas vermelhas, que eu tomava para não desidratar e desmaiar de tanto calor, disse-lhe que ele me havia emocionado profundamente, enquanto me autografava o cd, onde escreveu: 'para candice - o nome é sofisticado - um beijo do joão carlos martins'.
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depois do rio, carnaval em casa, descansando master, colocando os filmes em dia, brincando de fazer cupcakes e encontrando amigos que também já passaram da fase.

*bruges*

queridos, bruges é linda. medieval, bucólica, romântica, irretocável. da estação central de bruxelas, no coração da cidade, sai um trem a cada meia hora, para uma viagem de pouco mais de 50 minutos. pode-se, portanto, fazer o percurso bruxelas - bruges - bruxelas em um dia, tranqüilamente. pode-se, não. deve-se. bruges é imperdível. e, não fosse exatamente por ela, o caminho, por si só, já valeria a viagem. da janela do trem vêem-se pastos absolutamente verdes, neve branquinha por derreter [nesta época do ano], lindas casinhas com telhado em V invertido e impressionantes cavalos com patas de elefante. o trem é uma babel absurda. você senta atrás de um casal de russos, na frente de um grupo de japas tagarelas, ao lado de uma mãe francesa que joga baralho com seu filho fofo de 8 anos [criança falando francês é o que há!] e ainda ouve o trio de alemães bem típicos, que parecem brigar mas de vez em quando soltam uma gargalhada bem caricata: 'ho ho ho ho'. uma comédia. se der sorte, como eu, ainda faz amizade com um belga simpático, que embarca em gent, te dá uma aula sobre a bélgica em inglês, e te adiciona no facebook no final do dia. bruges é a veneza do norte, dizem alguns. seus canais a tornam ainda mais bonita, romântica e agradável. absolutamente percorrível a pé, é possível desembarcar na estação e intuitivamente ir caminhando pela cidade, sentindo o vento gelado no rosto e o cheiro de chocolate [belga] no ar. as ruas são de paralelepípedo, as casinhas de tijolo aparente e sempre apontadas para cima. o dia estava azul [o primeiro dia azul desde que cheguei] e a paisagem era tão linda que parecia que a gente estava andando dentro de um quadro pintado a óleo. a praça central parece feita de lego e a gente se sente um playmobil. a gente caminha mais um pouco, pára numa barraquinha natalina para comer o típico waffle belga, compra uma coruja a mais para a coleção, vê algumas das vitrines mais lindas que já viu em toda a vida - cheias de latinhas, doces, miniaturas, coisinhas - e, de repente, deu um 360 na cidade e voltou para a estação, bem a tempo de pegar o próximo trem de volta para bruxelas. um dia perfeito.
próxima estação: amsterdam.

desperdício

vou ao rio na segunda, a trabalho. nada de cristo redentor. nada de lagoa. nada de ver os aviões decolando do santos dumont de cima do pão de açúcar. nada de ver o morro do vidigal acender atrás dos dois irmãos. nada de pôr-do-sol na colombo do forte de copacabana. e o mais phoda [com ph e em neon, piscando!] frustrante de tudo: nada de calçada de ipanema. ficarei triangulando entre a universidade, o office e o hotel, tudo na barra. e a barra - convenhamos - não é exatamente o rio. volto na quinta. se me der a louca, peço demissão e saio correndo igual o forrest gump para ligar para vocês - mô e clara - do orelhão da esquina da maria quitéria com a vieira souto. combinado?
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ah, bruges [ainda] vem aí!

*bruxelas*

[grand place]
depois de um considerável atraso na gare du nord, pegamos nosso trem com destino à estação midi, na capital belga...
ao contrário de paris, que é uma cidade para onde se deve voltar sempre que possível, fiquei com a impressão de que ir a bruxelas uma vez nesta vida já estava de bom tamanho. é certo que é quase um sacrilégio morrer sem ter visto a grand place e o interior da catedral de saint michel & gudule, e que tem seu valor comer um godiva deitada na cama de um hotel belga, numa rua belga, a poucos quilômetros de onde ele foi comprado, no final do dia, mas há alguma coisa de estranho na atmosfera de bruxelas. alguma coisa que não se pode nomear. uma impessoalidade. uma frieza, talvez. uma irracional sensação de insegurança. deve ter alguma coisa a ver com a perda da latinidade, com o choque de sair de uma europa latina para uma europa europa. sei lá.
a bélgica é um pequeno país espremido entre a frança, a holanda e a alemanha. tão espremida que a gente quase se compadece ao vê-la no mapa - onde ela só ganha, continentalmente falando, do inexpressivo e quase inexistente luxemburgo. bruxelas é uma cidade bonita, civilizada, repleta de turistas e de chocolates. é tanto chocolate que eu desconfio que se fizessem uma gincana e soltassem todo mundo da cidade com a finalidade de comê-los, ninguém dava conta. a gente vê tanto chocolate que até perde um bocado da vontade de comer. e olha que se há uma coisa com a qual eu não faço cerimônia é chocolate. belga, então!
na capital da união européia e sede do parlamento europeu, as pessoas são educadíssimas e um tanto sisudas, o que decerto tem a ver com o funcionalismo público. algumas das que vi por lá pareciam saídas diretamente da versão anos 80 do cara a cara - aquele jogo da estrela que tinha umas palhetinhas que íamos baixando na medida inversa das respostas do nosso adversário, lembram? há uma impessoalidade quase incômoda. uma certa falta de identidade, de sentimento de pertença. a impressão que dá é que os seus habitantes não são belgas, mas europeus simplesmente. tudo está escrito em dois idiomas [francês e flamengo], até mesmo o nome das estações de metrô, onde não há catracas. as pessoas são tão civilizadas e conscientes que simplesmente compram seus bilhetes e embarcam, sem fiscalização nenhuma. no atomium, também não me recordo de ninguém haver confirmado meu bilhete de entrada. é bom estar num lugar assim. resgata-se um pouco da esperança perdida na humanidade.
cheguei numa tarde gélida, de vento forte e cortante. lembro do pouco de vontade de chorar e do muito de raiva que tive de mim mesma por não haver comprado antes um mapa da cidade que me desse um mínimo de noção da direção do meu hotel. era 25 de dezembro e não havia uma viva alma nas imediações do metrô madou, com quem eu pudesse gastar o meu sofrível francês. lembro de haver bendito o par de luvas de couro que comprei um dia antes, numa loja chamada candice [onde conheci minha bonita xará!], na rue de l´ancienne comédie, no saint germain des prés. lembro também de haver apelado para são miguel, que logo intercedeu em meu favor e me direcionou intuitivamente ao meu destino: o número 42 da rue du congres, ali pertinho. depois de instalados, descemos as ruas vazias até o centro e fomos gradativamente encontrando cada vez mais pessoas, até nos depararmos com um verdadeiro formigueiro de gente. estávamos na grand place! já era quase noite e a grande árvore de natal azul estava acesa e era o único lugar não ocupado por gente em toda a praça. era como se todas as pessoas da cidade estivessem concentradas ali, o que explicava as ruas tão estranhamente vazias. perdi o ar por um instante, diante da fachada iluminada do emblemático prédio da câmara municipal, que mudava de cor e desejava 'feliz natal' em todas as línguas do mundo no ritmo da música que tocava, naquilo que eu posso chamar de um natal inesquecível. devagar, muito devagar, dei uma volta de 360 graus ao redor de mim mesma, deixando-me impressionar pelos detalhes da mais bela praça do mundo, segundo victor hugo. um momento de ouro desta viagem, sem dúvida. mas o melhor da bélgica ainda estava por vir...

próxima estação: bruges.

notícias do ensino superior

chico lico passou no vestibular da federal, em 9º lugar. eu não caibo em mim.
[a propósito, parabéns para fá e ricardo, pela aprovação da aline!]
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e enquanto bruxelas não vem, dêem uma lidinha nas horizontais da vertical de hoje.

delayed

o thalys para bruxelas atrasou devido ao mau tempo na europa.

*paris*

[place des vosges]

queridos, conforme prometido venho deixar minhas impressões e reminiscências sobre as cidades tão especiais pelas quais passei nestas férias de final/começo de ano. foram dias frios e lindos, que guardarei com toda a delicadeza em minha avantajada memória canceriana, e que apenas parcialmente conseguirei exprimir em palavras, mas o registro servirá ao menos para organizar, de alguma maneira, meus sentimentos sobre lugares incríveis, que me tiraram um pedaço e por onde, certamente, minha alma flutuará para sempre [vide posts mais antigos, intitulados ‘minha alma flutua’].

dedicarei um capítulo para cada uma das cidades daquilo que chamei de primeira fase da viagem [paris, bruxelas, bruges e amsterdam] e um último capítulo para portugal, onde vivi o segundo momento, todo especial, destas minhas férias merecidas.

prontos para começarmos nosso ‘caminho para a distância’? pois...


*paris*

impossível falar, escrever ou pensar sobre paris sem cair nos velhos clichês de que ‘paris vale uma missa’, ‘paris é uma festa’, ‘paris é tudo’. paris, de fato, é tudo, e um pouco mais. e se eu já estava certa antes, agora posso dizer, com conhecimento de causa, que ‘só há uma coisa melhor do que ir a paris: voltar a paris!’. paris é mágica, romântica, harmônica e extremamente estética. tudo é lindo em paris: as ruas, os prédios, as praças, os jardins, as pontes, as pessoas. as pessoas, aliás, valem um comentário a parte neste post, pois não lembro de ter visto tanta gente bonita por metro quadrado em qualquer lugar da minha vida, mesmo em paris, antes. homens e mulheres. gente das mais diversas origens e etnias. parisienses e não parisienses. imigrantes. turistas. homens de olhares magnéticos e mulheres lindamente maquiadas e bem-vestidas. penso que as pessoas acabam harmonizando-se com a beleza e com o espírito da cidade. deve ser isso.

começar uma viagem por paris é algo intenso, mas que de certa forma tira um bocado do entusiasmo pelos destinos posteriores. nada que nos impeça de ver a beleza e sentir a energia das outras cidades, mas é difícil sentir-se arrebatado por um lugar depois de paris.

as primeiras emoções da viagem aconteceram ainda no avião, com as diametralmente opostas visões aéreas de lisboa e paris. saímos de fortaleza no incrível vôo da tap que atravessa o atlântico em inacreditáveis 6 horas e 20 minutos. chegamos em lisboa numa manhã de céu absolutamente azul, de maneira que pude avistar, da minha janela, a torre de belém; o mosteiro dos jerónimos, com seu jardim de frente; e os estádios do benfica e do sport. foi lindo rever portugal de uma maneira tão peculiar e inesperada. desembarcamos, então, para os procedimentos de conexão e, com um pouco de atraso, decolamos com destino ao aeroporto de orly. alguma turbulência gerada pelo encontro dos ventos portugueses com os ventos espanhóis e logo estávamos sobrevoando os pirineus – uma cadeia de montanhas congeladas que geograficamente ajudam a traçar a fronteira entre o norte da espanha e o sul da frança. lindo de ver de cima. uma seqüência quase infinita de relevos brancos, que me lembraram o dia em que, num vôo entre fortaleza e são luís, fui surpreendida ao avistar os lençóis maranhenses. mas emoção maior eu sentiria ao chegar numa paris branca e que parecia soterrada pela neve. a sensação era a de que estávamos chegando ao pólo norte, e que não havia restado ninguém em paris. não se via movimento algum, apenas uma imensidão branca, estática e linda, quase triste – uma cena que, mesmo que eu viva 100 anos, jamais esquecerei. após o traslado, check in e demais procedimentos de chegada, e já instalados num hotel do 14ème, pegamos o metrô com destino ao trocadéro, mas decidimos descer um pouco antes, na estação bir-hakeim (tour eiffel) – o que foi providencial, porque a vista da torre iluminada a partir do trocadéro, já na chegada, certamente teria sido demais para o meu coração dom-quixotesco. contando com o fuso horário de 4 horas a mais e com o rigor do inverno europeu, já era noite o suficiente para que os apartamentos que ficam no mesmo nível do metrô – que passa a ser de superfície a partir da estação cambronne – tivessem acendido suas luzes internas. foi uma delícia observar, através do que as janelas e as cortinas entreabertas me permitiam ver, as decorações caracteristicamente parisienses que, somadas à trilha sonora proporcionada pelos gitanos do metrô, não me deixaram a menor sombra de dúvida: definitivamente, eu estava em paris! depois, então, de um jantar delicioso, regado a dois copos de vinho tinto, e de uma caminhada entre o sena e a torre eiffel, que piscava e mudava de cor em intervalos regulares, a vida ficou linda e eu me senti a mais feliz das criaturas.

o dia seguinte – o primeiro completo na cidade – começou com muita neve. nevava um bocado ainda quando saímos do hotel com destino certo: a catedral de notre-dame, por onde se deve começar qualquer viagem que se preze a paris. sem baldeação, a mesma linha de metrô nos levou até a estação cité, bem no meio da ilhota que divide o sena e que conjuga as îles de la cité e saint louis – o metro quadrado mais caro, e mais charmoso, de paris, e marco inicial da cidade. a catedral imponente, os arredores nevados, as árvores completamente desfolhadas e o dia cinza me foram afinando o espírito e ao entrar na notre-dame, no meio de uma missa – celebrada, naturalmente, em francês – sentei e rezei, agradecendo, mais que tudo, por todas as bençãos de 2009, e pedindo saúde e proteção para mim e para o meus [nos quais se incluem muitos dos poucos que ainda se dão o trabalho de me ler nesta biroska], pedido que refiz em cada uma das muitas igrejas [cada uma mais linda que a outra] em que entrei nesta viagem. a missa já chegava perto do fim quando reabri os olhos, bem no momento que mais gosto da celebração: a paz de cristo. comecei a saudar os meus vizinhos, e os que estavam na minha frente, e às minhas costas: um casal de orientais; um africano; um casal tipicamente americano; alguns latinos; alguns germânicos... gente que me olhou profundamente nos olhos e que me desejou, sorrindo, ‘a paz de cristo’ em pelo menos uma dezena de línguas diferentes, e que recebeu de volta o meu sorriso, e a minha ‘paz de cristo’, no meu bom português. lágrimas escorreram sem esforço dos meus olhos naquele que foi um dos momentos mais emocionantes que me lembro já ter vivido.

nos dias que se seguiram, a cidade foi se mostrando aos poucos para mim, delicadamente. o frio era imenso, apesar de haver cessado a neve, mas nada consegue ser desagradável em paris. caminhei pela cidade sem pressa e sem destino, me deixando surpreender por onde o instinto me quis levar. de repente o sena. de repente o boulevard saint michel. de repente a pont saint louis, o quai de bourbon e a casa da camille claudel, citada por caio fernando abreu num escrito já postado no finado monólogos de eurídice [e onde eu não poderia mesmo ter deixado de ir, né clarita del valle?]. de repente a pont neuf. de repente o louvre, o jardin des tuileries, a place de la concorde com sua grande roue e a paris dos milionários [onde, após ser chamada de madame por um guarda de trânsito bonitão, vi uma mulher sair do hotel de crillon vestida num casaco de pele [que espero ecologicamente correto!], com uma bolsa hermès pendurada no braço e cara de ‘mais rica impossível’]. de repente a pont alexandre III, o grand palais, e a visão clássica da champs elysées decorada para o natal. de repente montmartre, com sua impressionante sacré couer [onde fiz uma oração especial por você, fá, e pelas meninas], e sua tão típica place du tertre. de repente la bastille e a place des vosges – a mais bonita de paris e onde passei, com mô no coração, o final de tarde mais lindo da viagem, ao som de um stravinski que parecia vindo do além. de repente a magnífica fachada da opéra iluminada e a chiquérrima place vendôme com o ritz e sua porta giratória, por onde mil vezes vimos passar a princesa diana e seu dodi al-fayed na noite de suas mortes [um pensamento mórbido e triste que não pude evitar]. de repente a tour eiffel, com os jardins du trocadéro e o champ de mars, um de cada lado da pont d´léna. de repente os jardins du luxembourg, la sorbonne, o boulevard saint germain, o café de flore e o les deux magots – um do ladinho do outro, exatamente como eu os vi em 95 e como estavam quando sartre e simone de beauvoir, apaixonados e entre cafés, jornais e cigarros, discutiram o existencialismo. eu já disse, aliás, que a perenidade das coisas é o que mais me encanta e enternece no velho continente. um coração canceriano e cultuador do passado como o meu não pode jamais passar incólume por um lugar onde, como diz meu hilário amigo jorgê, há um orelhão no qual napoleão ligou para nabucodonosor ou uma fonte na qual carlos magno se refrescou antes de invadir a galícia. paris é assim: eterna. e eu espero voltar, muitas vezes ainda, para poder enxergar, com olhos cada vez mais adultos, e o coração cada vez mais apurado pela vida, suas sutilezas e nuances.

peguemos, então, um thalys para a próxima estação: bruxelas.

twitter de bordo

[amsterdam]
[bruxelas & bruges]
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queridos, estou em portugal, vivendo dias lindos e um pouco mais quentinhos. dei-me férias de tudo, inclusive desta biroska. passo, portanto, apenas para deixar beijos de feliz ano novo e imagens da bélgica e da holanda, onde estive depois de paris. prometo postar minhas impressões quando voltar, lá pela metade do mês.

.por onde andei.

.por onde andei.
.sob o céu furta-cor de jeri.

.pela orla da minha querida cascais.

.por entre as milhares de bicicletas de amsterdam.

.pelas ruas medievais da irretocável bruges.

.sob as luzes e sombras da grand place, em bruxelas.

.pela simétrica [e linda!] place des vosges, em paris.

.pela incrível plaza de españa, em sevilla.

.pelo fabuloso parc güell, em barcelona.

.pela recoleta, em buenos aires.

.pelas muralhas de óbidos.

.pela nascimento silva, em ipanema.

.pela cidade alta, em salvador.

.pelo pico alto, em guaramiranga.

.pelas charmosas ruas de sintra.

.pela torre de belém, em lisboa.

.pelas margens do douro, no porto.

.pelo casco viejo, em santiago de compostela.

.pelo meu retiro, em madrid.

.caminham comigo.

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.plágio é crime e atestado de burrice.

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.presentinhos.

.presentinhos.