*bruxelas*

[grand place]
depois de um considerável atraso na gare du nord, pegamos nosso trem com destino à estação midi, na capital belga...
ao contrário de paris, que é uma cidade para onde se deve voltar sempre que possível, fiquei com a impressão de que ir a bruxelas uma vez nesta vida já estava de bom tamanho. é certo que é quase um sacrilégio morrer sem ter visto a grand place e o interior da catedral de saint michel & gudule, e que tem seu valor comer um godiva deitada na cama de um hotel belga, numa rua belga, a poucos quilômetros de onde ele foi comprado, no final do dia, mas há alguma coisa de estranho na atmosfera de bruxelas. alguma coisa que não se pode nomear. uma impessoalidade. uma frieza, talvez. uma irracional sensação de insegurança. deve ter alguma coisa a ver com a perda da latinidade, com o choque de sair de uma europa latina para uma europa europa. sei lá.
a bélgica é um pequeno país espremido entre a frança, a holanda e a alemanha. tão espremida que a gente quase se compadece ao vê-la no mapa - onde ela só ganha, continentalmente falando, do inexpressivo e quase inexistente luxemburgo. bruxelas é uma cidade bonita, civilizada, repleta de turistas e de chocolates. é tanto chocolate que eu desconfio que se fizessem uma gincana e soltassem todo mundo da cidade com a finalidade de comê-los, ninguém dava conta. a gente vê tanto chocolate que até perde um bocado da vontade de comer. e olha que se há uma coisa com a qual eu não faço cerimônia é chocolate. belga, então!
na capital da união européia e sede do parlamento europeu, as pessoas são educadíssimas e um tanto sisudas, o que decerto tem a ver com o funcionalismo público. algumas das que vi por lá pareciam saídas diretamente da versão anos 80 do cara a cara - aquele jogo da estrela que tinha umas palhetinhas que íamos baixando na medida inversa das respostas do nosso adversário, lembram? há uma impessoalidade quase incômoda. uma certa falta de identidade, de sentimento de pertença. a impressão que dá é que os seus habitantes não são belgas, mas europeus simplesmente. tudo está escrito em dois idiomas [francês e flamengo], até mesmo o nome das estações de metrô, onde não há catracas. as pessoas são tão civilizadas e conscientes que simplesmente compram seus bilhetes e embarcam, sem fiscalização nenhuma. no atomium, também não me recordo de ninguém haver confirmado meu bilhete de entrada. é bom estar num lugar assim. resgata-se um pouco da esperança perdida na humanidade.
cheguei numa tarde gélida, de vento forte e cortante. lembro do pouco de vontade de chorar e do muito de raiva que tive de mim mesma por não haver comprado antes um mapa da cidade que me desse um mínimo de noção da direção do meu hotel. era 25 de dezembro e não havia uma viva alma nas imediações do metrô madou, com quem eu pudesse gastar o meu sofrível francês. lembro de haver bendito o par de luvas de couro que comprei um dia antes, numa loja chamada candice [onde conheci minha bonita xará!], na rue de l´ancienne comédie, no saint germain des prés. lembro também de haver apelado para são miguel, que logo intercedeu em meu favor e me direcionou intuitivamente ao meu destino: o número 42 da rue du congres, ali pertinho. depois de instalados, descemos as ruas vazias até o centro e fomos gradativamente encontrando cada vez mais pessoas, até nos depararmos com um verdadeiro formigueiro de gente. estávamos na grand place! já era quase noite e a grande árvore de natal azul estava acesa e era o único lugar não ocupado por gente em toda a praça. era como se todas as pessoas da cidade estivessem concentradas ali, o que explicava as ruas tão estranhamente vazias. perdi o ar por um instante, diante da fachada iluminada do emblemático prédio da câmara municipal, que mudava de cor e desejava 'feliz natal' em todas as línguas do mundo no ritmo da música que tocava, naquilo que eu posso chamar de um natal inesquecível. devagar, muito devagar, dei uma volta de 360 graus ao redor de mim mesma, deixando-me impressionar pelos detalhes da mais bela praça do mundo, segundo victor hugo. um momento de ouro desta viagem, sem dúvida. mas o melhor da bélgica ainda estava por vir...

próxima estação: bruges.

2 comentários:

Anônimo disse...

Rá! Tive a mesma impressão de Bruxelas, também visitada num frio inverno de 1992/1993. Pelo menos tinha sol e céu azul, coisas que, dizem as más línguas, são praticamente inexistentes por aqueles lados. Bom mesmo, de apaixonar e querer levar pra casa, foi Brugges, que vi e revi e ainda tenho vontade de ver de novo!
bjos.
Mônica

Anônimo disse...

Querida
Qdo passei por Bruxelas tb tive uma sensação de frieza, era julho e só chovia. Dia de sol por lá é mesmo raro! Estou ansiosa pelo resto das impressões.
Bjo

.por onde andei.

.por onde andei.
.sob o céu furta-cor de jeri.

.pela orla da minha querida cascais.

.por entre as milhares de bicicletas de amsterdam.

.pelas ruas medievais da irretocável bruges.

.sob as luzes e sombras da grand place, em bruxelas.

.pela simétrica [e linda!] place des vosges, em paris.

.pela incrível plaza de españa, em sevilla.

.pelo fabuloso parc güell, em barcelona.

.pela recoleta, em buenos aires.

.pelas muralhas de óbidos.

.pela nascimento silva, em ipanema.

.pela cidade alta, em salvador.

.pelo pico alto, em guaramiranga.

.pelas charmosas ruas de sintra.

.pela torre de belém, em lisboa.

.pelas margens do douro, no porto.

.pelo casco viejo, em santiago de compostela.

.pelo meu retiro, em madrid.

.caminham comigo.

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.plágio é crime e atestado de burrice.

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.presentinhos.

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